Fumo& fogo

O Governo anuncia, a ANMP desmente, o Governo confirma, o presidente da ANMP “está ausente no estrangeiro”, o Governo explica. Os portugueses sabem há muito que as piores notícias começam sempre assim. E quando dão por isso (estou numa estação de serviço a meter gasolina e a lembrar-me da promessa de que os impostos não aumentariam) já têm a bolsa a pegar fogo (a bolsa e a vida). Desta vez são portagens à entrada das cidades, “para dissuadir o uso do automóvel e reduzir as emissões de CO2”. O secretário de Estado Humberto Rosa diz que a coisa, no estrangeiro, teve “algum sucesso”. Pelas mesmas louváveis razões os automóveis mais poluentes pagam agora mais imposto (mas os menos poluentes não pagam menos). Primeiro entregaram-se as cidades, com lucros para todos, principalmente empreiteiros e autarcas, à voragem da especulação imobiliária e expulsaram-se pobres e classes médias para a periferia, agora pede-se-lhes que paguem para chegarem aos locais de trabalho nos velhos “Puntos” e “Corsas”. A preocupação com o CO2 não chega para investir em estacionamentos periféricos com acesso a transportes públicos de qualidade ou em títulos de transporte únicos e acessíveis. Em contrapartida, cobrar portagens é fácil, é barato e, além do mais, dá milhões.

Manuel António Pina, JN de 30-1-2007

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